Nos últimos dias dois casos envolvendo policiais ganharam repercussão na Paraíba: de acordo com a Unidade Popular, dois policiais disfarçados se infiltram em um evento do Povo Na Rua; e um policial atirou em um jovem durante uma discussão numa praça do bairro Geisel, ambos os fatos em João Pessoa. Seriam agentes de repressão no primeiro cenário, e uma milícia em outro?

Há uma similaridade nos casos: policiais à paisana – como são chamados quando estão como civis, ou seja, fora de serviço, sem atuar pelas forças policiais.

No caso da dupla infiltrada há características de agentes de repressão da época da ditadura militar. Os homens estavam fotografando e fazendo anotações durante a reunião, na Praça da Paz, no bairro Bancários, na capital. Eles também usavam óculos, chapéu e camisa vermelha, como quisessem se passar por um simpatizante de esquerda.

Caso similar, inclusive, ao que ocorreu durante manifestações contra o presidente Jair Bolsonaro no último dia 3 de julho, em São Paulo, onde uma suspeita recai sobre um homem portando câmera profissional, que se filma dando chutes em uma porta de vidro de uma agência bancária. Antes, ele teria pichado um “A” de Anarquismo, de forma errada. O homem usava um coturno que pertence a Polícia Militar de São Paulo. Suspeita é que ele queria se passar por um “black bloc” e dar tom de vandalismo à manifestação.

Agindo de forma midiática – gravando a si próprio, se disfarçando e tirando fotos – mostram que há algo que remete a ações isoladas, movimentações típicas de “lobos solitários”, com pertencimento a correntes políticas que tentam desestabilizar a democracia.

Homem com coturno da PMSP chuta vidro de agência bancária e se grava, após ter pichado símbolo anarquista errado

Atraídos por um viés totalitarista, os homens agem por conta própria, incentivados por um midiatismo exacerbado, potencializado pelas redes sociais, onde sua profissão – policial, no caso – se torna “acessório”. Há incentivos para tais ações em diversos canais bolsonaristas, por exemplo, como em grupos de WhatsApp e canais de Telegram.

Infiltrados: dupla fez fotos, anotações e gravações

O partido Unidade Popular, organizador do evento na Praça da Paz em João Pessoa, que teve o evento invadido por dois supostos policiais infiltrados, explicou que tomaram conhecimento dos invasores após intervenções estranhas deles.

O vídeo com a denúncia da presença dos homens foi compartilhado pela UP nas redes sociais e viralizou. Somente no Twitter o vídeo conta com mais de 50 mil visualizações. Assista:

“Eles chegaram sem máscara, já achamos estranho, pois não fazemos nenhuma ação com gente sem máscara. Demos um desconto e seguimos. Eles puxaram assunto e perguntaram que horas o ato começa, uma falha, porque não era um ato, mas sim uma reunião de organização. Saíram e voltaram de máscara”, explicou inicialmente Vitória Ohara, que integra o UP e o Movimento Olga Benário – Paraíba e estava na organização do evento.

A dupla então começou a fazer fotos de quem discursava e encaminhar para grupos. Este minucioso detalhe foi percebido por um dos integrantes da organização que atua como agente de segurança do grupo e chegou a ver a tela do celular de um dos homens.

“Um deles começou a anotar, nas notas do celular, os nomes da pessoas que estavam falando e as organizações que integravam, além de estar com o gravador do celular ligado”, detalhou Vitória. “Na hora a gente já tinha certeza que era alguém ou da polícia militar ou de alguma organização de direta que quisesse fazer esse mapeamento”, completou.

O blog apurou que policiais da ativa não reconheceram os homens nas imagens, e as suspeitas crescem para que possam ser policiais da reserva.