Localizado em Las Palmas, Ilhas Canárias, na costa da África, o vulcão La Cumbre Vieja entrou em estado amarelo de alerta de erupção. Esse é o segundo mais alto de quatro níveis de atenção para a escala de atividade vulcânica.

No Brasil, as redes sociais foram tomadas, nesta quarta-feira (16), pela informação de que essa erupção, caso ocorresse, geraria um tsunami em todo o litoral do Nordeste, que poderia registrar ondas de até 10 metros, mas, calma: o risco até existe, só não é tão urgente quanto pode parecer.

Em entrevista à Folha de Pernambuco, o oceanógrafo Carlos Teixeira, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), afirmou que essa elevação do alerta não significa que o vulcão vai entrar em erupção amanhã ou depois e nem que ondas gigantes poderiam atingir a costa brasileira.

“É um procedimento normal do governo espanhol falando: ‘olha, o vulcão está se tornando mais ativo e isso faz mais alerta para a população da ilha’. Existem vários estudos que mostram que se você tivesse uma erupção específica lá nessa ilha, você poderia ter um tsunami que chegaria aqui, mas não é toda erupção que gera tsunami”, amenizou o especialista. O Recife está localizado a cerca de 4.450 quilômetros do Cumbre Vieja.

Para uma erupção vulcânica gerar um tsunami, seriam necessários alguns fatores como quantidade e velocidade de um possível desmoronamento de parte da terra da ilha onde está o La Cumbre Vieja para o Oceano Atlântico, que, inclusive, não costuma ter tsunamis como os oceanos Pacífico e Índico.

O Plano Especial de Proteção Civil e Atenção às Emergências de Risco Vulcânico das Ilhas Canárias (Pevolca, na sigla em espanhol), entidade do arquipélago onde fica Las Palmas, responsável pelo alerta, justifica a elevação do nível de alerta pela ocorrência repetida de terremotos na região desde 2017, sobretudo nos últimos dias.

Cerca de 4.222 tremores foram detectados no parque nacional em volta do vulcão – sendo o mais forte com magnitude de 3,5 graus na escala Richter, nessa quarta-feira (15), segundo informou o Instituto Geográfico Nacional da Espanha (IGN).

Com a intensa atividade sísmica recente, especialmente a uma profundidade considerada baixa, de 8 a 12 quilômetros, o magma está subindo lentamente pelo vulcão para a superfície e pode ser expelido da caldeira.

É mais urgente se preparar para as mudanças climática

O oceanógrafo defende que, há 20 anos, por exemplo, cientistas alertavam sobre a possibilidade iminente de uma pandemia e que a sociedade precisaria estar preparada para enfrentá-la.

No entanto, os recorrentes alertas foram ignorados e o que se viu foi um cenário em que nem as autoridades nem a população souberam lidar com a chegada e disseminação do Sars-CoV-2, vírus causador da Covid-19.

“Naquele momento, você teve a correria que está tendo hoje [por causa do tsunami], mas depois isso foi esquecido e as pessoas minimizaram, mas um dia a pandemia veio. Da mesma forma que a gente deveria estar preparado para uma pandemia, devemos estar preparados para um caso de tsunami”, continuou o professor.

“A gente deveria se preocupar mais com a poluição por plásticos e as mudanças climáticas”, finalizou Carlos Teixeira.